O modelo de agricultura convencional (agronegócio) permanece sendo defendido por muitos como o único capaz de produzir alimentos em quantidades suficientes para atender a atual população mundial. E, durante determinado período de tempo, esse modelo realmente trouxe aumentos produtivos nas propriedades em que era implantado. Todavia, isso não significou a solução para o problema da fome e da insegurança alimentar no mundo. 

Além disso, as técnicas e práticas utilizadas na agricultura convencional retiram excessivamente e degradam os recursos naturais dos quais a agricultura depende: o solo, as reservas de água e a diversidade genética natural. Também são altamente dependentes de combustíveis fósseis não renováveis. Por isso, esse é um modelo de agricultura insustentável, não pode continuar a longo prazo, porque deteriora as condições que o tornam possível.

Os problemas ambientais causados são, muitas vezes, irreversíveis, como a contaminação da água, do solo e dos ecossistemas, o que gera a destruição de habitats e a perda da biodiversidade. Então,  não só continuamos com altos índices de pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar, mas também convivemos com ambientes extremamente degradados.

Entre as consequências desse processo está a erosão e outras formas de degradação do solo que o tornam cada vez menos fértil. A erosão é um processo de transformação dos solos que ocorre naturalmente e se caracteriza pelo seu desgaste em determinadas áreas, seguido pelo transporte e deposição dos sedimentos em outros locais. Esse desgaste pode ser causado por agentes externos como as águas da chuva, as águas de rios ao longo de seu curso, o vento, entre outros fatores ambientais. Todavia, a erosão também pode ter causa antrópica, ou seja, ser causada ou intensificada pelos seres humanos, o que ocorre em situações de mineração e alteração de relevos, desvio de rios, desmatamento, queimadas, entre outras atividades. 

As práticas da agricultura convencional tem tido um grande impacto na degradação dos solos, sendo responsáveis por, aproximadamente, 40% da degradação da superfície agrícola nos últimos 50 anos. Os processos de erosão evoluíram, em alguns casos, para desertificação de áreas e a manutenção das áreas cultiváveis, atingindo 6 milhões de hectares por ano (GARCÍA; RAMÍREZ; SÁNCHEZ, 2012).  

Um solo saudável, em boas condições físicas, químicas e biológicas é essencial para o desenvolvimento da agricultura. Enquanto o modelo de agricultura convencional busca resolver os problemas que causa ao solo por intermédio de agentes externos (mecanização, uso de fertilizantes artificiais), que surtem efeitos apenas temporários, a agroecologia defende a melhoria e a conservação das condições do solo por meios que se assemelham ao que ocorreria naturalmente no ambiente, de forma que seus efeitos sejam progressivos e duradouros. 

Ana Maria Primavesi (2008), importante pesquisadora do tema, ao escrever sobre o manejo agroecológico dos solos, destaca cinco pontos fundamentais: solos vivos e agregados, com presença variada de organismos interagindo com a matéria orgânica; biodiversidade, ou seja, diversidade de plantas em uma mesma área, fornecendo matéria orgânica variada; proteção do solo contra o aquecimento excessivo e impacto da chuva e do vento (cobertura do solo); bom desenvolvimento das raízes, pela manutenção da boa estrutura do solo e por meio de práticas alternativas e, por fim, a autoconfiança do agricultor, pela valorização de seus conhecimentos e experiências.

Além dos impactos ao solo, podem ser destacados como aspectos negativos da agricultura convencional a diminuição na disponibilidade de água (devido à compactação do solo e diminuição da taxa de infiltração) e a diminuição da diversidade genética natural (causada pelo desmatamento e pela prática da  monocultura).

A monocultura é uma técnica que se baseia no cultivo de apenas uma espécie de planta em uma vasta extensão territorial, o que não ocorre naturalmente. As mudanças no equilíbrio do habitat resultam na perda de fertilidade do solo (inicidindo na necessidade de maior uso de fertilizantes); desequilíbrio na retenção de água (e, consequentemente, necessidade de mais irrigação); perda na biodiversidade de plantas e animais nas áreas (incluindo polinizadores essenciais para a agricultura, como as abelhas); maior incidência de insetos, parasitas e outros animais considerados como "pragas". A necessidade de controlar a multiplicação desses animais e de plantas espontâneas ("ervas daninhas"), resulta no uso excessivo de produtos químicos como herbicidas inseticidas e fungicidas (agrotóxicos).

O Brasil é um dos líderes em utilização de agrotóxicos no mundo e a maior parte dos alimentos disponíveis para venda está sendo produzida a partir do uso intensivo desses produtos. A utilização dos agrotóxicos afeta a saúde dos agricultores, enquanto o consumo dos alimentos com resíduos desses produtos afeta a saúde dos consumidores.

Auler (2021) aponta que a baixa biodiversidade e a degradação ambiental, fazem com que o modelo de agricultura industrial torne o ambiente mais suscetível à propagação de vírus e doenças, como é o caso da pandemia causada recentemente pela COVID-19. Alguns pesquisadores apontam a agroecologia como caminho para um nova agricultura pós-COVID-19, por meio da superação da liberação crescente de agrotóxicos no Brasil, enriquecimento das matrizes naturais, revitalização da agricultura familiar, criação de sistemas alternativos de produção de carne e aumento das atividades de agricultura urbana (ABRASCO, 2021; MATHEUS; FELICIANO, 2021; MACHADO et al, 2021).

Também pode ser mencionado como impacto negativo o aumento de desigualdades sociais já existentes nas áreas rurais. As técnicas utilizadas na agricultura convencional requerem investimentos financeiros acentuados, fazendo com que muitos agricultores tenham que buscar recursos externos com bancos e instituições financeiras para dar sequência às suas atividades. Situações como essas reduzem a liberdade e autonomia dos agricultores, que ficam atrelados ao pagamento de dívidas e, em casos de perdas produtivas podem sofrer prejuízos em bens materiais e, até mesmo, quanto à posse de suas terras.

Além disso, a padronização das espécies utilizadas e o uso de sementes comerciais, faz com que sejam perdidas plantas endêmicas de certos locais e sementes crioulas, características de determinados regiões. Com isso,  diminuem a diversidade biológica e a riqueza cultural, pois desaparecem costumes e conhecimentos multiplicados por famílias e/ou pequenos grupos ao longo de anos.

A agroecologia defende a diversificação nas propriedades, criando barreiras naturais para a propagação de doenças e vírus e aumentando a variedade de alimentos disponíveis, ainda que para o autoconsumo das famílias. Esses processos permitem a manutenção do vínculo de coevolução entre agricultores e espécies e têm sido responsável pela adaptação de diversas culturas a determinados locais no decorrer dos anos. Por conseguinte, a agreocologia tem crescido como uma proposta para transição da agricultura convencional para modelos de agricultura mais sustentáveis. 

Abaixo trazemos alguns vídeos que abordam o agronegócio e seus impactos.


Vídeo 1: O AGRONEGÓCIO pode ser SUSTENTÁVEL? (Canal Bem Vivendo)


Vídeo 2:  AGRO | EP 9 - A agricultura convencional (Canal Mídia NINJA)



Video 3: O QUE É AGROECOLOGIA? (Canal Apêtê-Caapuã UFSCar)



REFERÊNCIAS:

GARCÍA, Yoansy; RAMÍREZ, Wendy; SÁNCHEZ, Saray. Indicadores de la calidad de los suelos: una nueva manera de evaluar este recurso. Pastos y Forrajes, Cuba, v. 35, n. 2, p.125- 138, jun. 2012.

PRIMAVESI, A. M. Agroecologia e manejo do solo. Revista Agriculturas, v.5, n.3, 2008.

AULER, D. Comunicação ou coprodução e coaprendizagem: diálogo com a obra Extensão ou comunicação? Curitiba: Appris, 2021

ABRASCO. Agronegócio e pandemia no Brasil: uma sindemia está agravando a pandemina de Covid-19? 2021. Disponível em: https://www.abrasco.org.br/site/noticias/agronegocio-e-pandemia-no-brasil-uma-sindemia-esta-agravando-a-pandemia-de-covid-19/59600/

MATHEUS, F. A.; FELICIANO, C..A. Reforma agrária, agroecologia e os desafios para a construção de novas formas de relação sociedade natureza durante e pós-pandemia. Revista Retratos de Assentamentos, v.24, n.1, p. 44-67,  2021.

MACHADO, A. D., et al. A insustentabilidade dos sistemas alimentares atuais deve ser integrada no entendimento da COVID-19 como uma sindemia. Cadernos de Saúde Pública, n. 12, ISSN 1678-4464, Rio de Janeiro, 2021.

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